A história da criação de Petrópolis começa 100 anos antes de sua fundação, em 1743, quando o português Manuel Correa da Silva começou a comprar todas as fazendas que havia desde o registro do Rio Paraíba do Sul até os altos da Serra da Estrela.

Manuel Correia da Silva

Manuel Correa da Silva chegou ao Brasil muito jovem e, depois de participar de muitas entradas e bandeiras, enriqueceu na mineração em Goiás. Uma de suas fazendas transformou-se na cidade de Pirenópolis-GO, onde atualmente se encontram centenas de artesãos de jóias de prata e pedra semipreciosas cujo talento ficou conhecido como Estilo Pirenópolis.

Ainda jovem, mas muito rico, Manuel resolveu se mudar-se para mais próximo da Corte e adquiriu a Fazenda do Rio da Cidade do rico sesmeiro, Manuel Antônio Goulão. Mais tarde, se casou com a sua única filha, Dona Brites Maria de Assunção Goulão. Tiveram cinco filhos sendo dois padres, ambos formados em Coimbra, e três filhas com enorme descendência, alguns com muita influência na vida da colônia.

Quando Manuel Correia da Silva morreu em 1784, na sua bela Fazenda do Rio da Cidade, ele era dono de toda a região. A grande fazenda foi desmembrada e as terras resultantes distribuídas entre seus filhos, resultando em fazendas que existem até hoje, dentre as quais se destacam: Pe. Correia, Sto. Antônio, Fazenda das Arcas, Samambaia, Itamarati, Olaria, São José e Retiro.

Padre Correia

Um dos filhos mais famosos de Manuel Correia da Silva é Antônio Tomás de Aquino Correia, mais conhecido como Pe. Correia. Tendo nascido na Fazenda do Rio da Cidade em 1759, Pe. Correia estudou na Universidade de Coimbra e foi ordenado em 1783. Transformou sua propriedade na mais progressiva fazenda do Caminho Novo, citada por todos os viajantes estrangeiros que por ali passaram quando o Brasil abriu seus portos ao comércio internacional. Em 1829, o viajante inglês Robert Walsch cita em seus diários que lá tomou um excelente suco de pêssego e ficou maravilhado com as imensas plantações de café.

A casa grande da fazenda era enorme, com varanda na frente e muito bonita. Havia uma capela consagrada a Nossa Senhora do Amor Divino, cuja imagem está atualmente na igreja da cidade de Correias.

O Padre Correia criava gado mais para corte do que para o aproveitamento de leite. Como o clima era propício ao cultivo de plantas de origem européia, o Padre Correia se dedicava ao cultivo de cravos, figos, jabuticabas, uvas, pêssegos, marmelos, milho e maçãs, tendo grandes lucros. Dentre tantas atividades, destacavam-se o cultivo de milho e a fabricação de ferraduras onde eram empregados muitos escravos.

O Padre Correia foi um dos grandes senhores de terra da região petropolitana. D. Pedro I frequentou várias vezes a fazenda do Padre Correia, passando a ter grande admiração por aquele local.

No dia 19 de junho de 1824, em Corrêas, faleceu o Padre Correia, de morte repentina, provavelmente problemas cardíacos. Foi enterrado no Rio de Janeiro na igreja de São Pedro, já demolida, hoje avenida Presidente Vargas. Com sua morte, D. Arcângela Joaquina da Silva, sua irmã, herdou a fazenda.

Fazenda Córrego Seco

D. Pedro I tinha uma filha de cinco anos, a Princesa Dona Paula, cuja frágil saúde muito sofria com o calor do Rio de Janeiro, tendo vindo a falecer prematuramente aos dez anos, em 1833.

Para proteger a saúde da filha e fugir das epidemias de cólera, tornou-se costume que D. Pedro I saísse do Rio de Janeiro no verão e fosse visitar as fazenadas situadas ao longo do Caminho Novo, onde a temperatura era bem mais baixa do que no litoral.

Em uma destas andanças, D. Pedro I pernoitou na fazenda do Padre Correia e se encantou com a exuberância e amenidade do clima. Quis então adquirir a propriedade para seu uso e, em especial, para o tratamento de sua filha.

D. Pedro I também estava interessado em construir um palácio fora do Rio de Janeiro, pois recebia muitas visitas da Europa não habituadas ao calor tropical. Além disso, incomodava o Imperador existirem no Rio de Janeiro residências muito mais luxuosas que os seus palácios, todos eles muito simples. Um palácio de verão, serra acima, deveria ser mais qualificado para a sua condição.

Em 1828, D. Pedro I, agora com sua segunda esposa D. Amélia, tentou insistentemente convencer D. Arcângela Joaquina da Silva a lhe vender a Fazenda do Pe. Correia. Mas D. Arcângela, não efetuou a venda, pois havia assumido o compromisso de não deixar que a propriedade passasse a mãos de quem não fosse de sua família. Ela mesma, talvez querendo se ver livre das incômodas e freqüentes visitas reais, indicou a D. Pedro I outra fazenda pertencente ao Sargento-Mór José Vieira Afonso e que tinha o nome de Córrego Seco. D. Pedro I comprou a fazenda por vinte contos de réis, preço considerado muito alto pois as terras eram improdutivas, e a escritura de compra foi assinada em 1830.

Fazenda da Concórdia

D. Pedro I ainda adquiriu outras propriedades em torno, no Alto da Serra, em Quitandinha e no Retiro, ampliando a área de sua fazenda. Como ele enfrentava dificuldades políticas na capital, desejando que reinasse paz entre a Nação e o Trono Brasileiro, passou a chamar o Córrego Seco de Fazenda da Concórdia. Logo depois encarregou seu arquiteto real Pedro José Pezerat e o engenheiro Pierre Taulois do projeto do Palácio da Concórdia, mas a obra não foi realizada, pois no dia 07 de abril de 1831, o Imperador foi obrigado a abdicar para retornar a Portugal. Esse projeto e o orçamento constam dos arquivos do Museu Imperial, infelizmente sem referência quanto ao local da obra.

Com a abdicação e morte de seu pai, D. Pedro II herda essas terras, que passam por vários arrendamentos até que Paulo Barbosa da Silva, Mordomo da Casa Imperial, teve a iniciativa de retornar aos planos de D. Pedro I. Era uma vultuosa empreitada que iria consumir consideráveis investimentos públicos e privados nos anos seguintes. Mas o Império estava em boa condição financeira, com o afastamento dos ingleses da nossa economia, com a proibição do tráfego negreiro e principalmente, com o boom do café.

O Nascimento de Petrópolis

Em 16 de março de 1843, D. Pedro II assinou o Decreto Imperial nº 155 que arrendou as terras da fazenda do Córrego Seco ao engenheiro alemão Major Júlio Frederico Koeler, para a fundação da Povoação Palácio de Petrópolis. O decreto prevê a construção do Palácio Imperial, de uma Vila Imperial com quarteirões planejados, da Igreja São Pedro de Alcântara e de um cemitério.

O Major Koeler fez um planejamento urbanístico tão detalhado, que muitos consideram Petrópolis a primeira cidade planejada do Brasil. No projeto, consta a planta geral da Povoação-palácio com o projeto do Palácio Imperial além de detalhes sobre a área mínima dos terrenos e a proteção das matas nas encostas. Quase um século mais tarde, quando a especulação imobiliária fez com que as diretrizes originais fossem ignoradas, a população sofreu com os mortais deslizamentos de terra agora comuns no período de chuvas em Petrópolis.

Em janeiro de 1845, Koeler colocou na Bolsa de Valores as ações da Companhia de Petrópolis, criada por ele para a execução de seus planos e projetos.

As ações da Companhia foram vendidas em quatro meses e dois meses depois chegaram os imigrantes alemães para o trabalho. Com recursos financeiros e mão-de-obra livre, a construção da povoação-palácio estava assegurada. Além disso, os governos provinciais de Caldas Vianna em 1843 e Aureliano Coutinho em 1845 deram integral apoio ao plano traçado por Koeler.