Em 1852, Mariano Procópio Ferreira Laje tinha os recursos financeiros e a autorização imperial para construir a Estrada União e Indústria. Porém, faltava um componente essencial: no Brasil não havia técnicos, engenheiros e outros trabalhadores qualificados em número suficiente para executar as obras rodoviárias.

Enquanto isso, na Alemanha, as guerras napoleônicas haviam arrasado o país. As indústrias estavam paradas, a população endividada e muitos operários talentosos estavam desempregados.

Surgiu então a idéia de trazer artífices alemães para construir a estrada no Brasil.

Em Petrópolis, desde 1845, prosperava uma colônia de 161 alemães, o que mostrava a viabilidade da idéia.

O governo brasileiro, por intermédio da Lei Provincial nº 56, de maio de 1840, incentivava a imigração prometendo terras para os estrangeiros.

A existência destes incentivos inspirou a Companhia União e Indústria a trazer, além da mão-de-obra especializada, colonos alemães que passariam a viver no Brasil após a construção da estrada.

A Colônia D. Pedro II

Para receber os alemães, a Companhia União e Indústria criou a Colônia D. Pedro II, nos arredores de Santo Antônio do Paraibuna, atual Juiz de Fora.

Colônia D. Pedro II em 1872
Colônia D. Pedro II em 1872.

O primeiro diretor da colônia foi Jorge Cristiano Giobert, que contratou H. F. Eschels para que este fosse à Alemanha selecionar e trazer artífices e colonos.

A Colônia D. Pedro II era dividida em duas: a "colônia agrícola", que mais tarde se transformou no Bairro São Pedro e a "colônia industrial" que era conhecida como "Villagem" ou "Fábrica" e hoje é o bairro Mariano Procópio em Juiz de Fora, MG.

A meio caminho entre as duas colônias, surgiu uma nova área populacional conhecida como "Colônia de Baixo" e designada pelos próprios alemães como "Sítio do Borboleta", pois as terras haviam pertencido ao exilado uruguaio Ramirez Mendoza Borboleta.

Segundo o historiador Wilson Bastos, tal localidade surgiu como uma forma de encurtar as distâncias percorridas pelos colonos.

Entretanto, os germânicos não habitaram apenas em tais localidades. Assim que chegaram à cidade e venceram as primeiras dificuldades, 50 famílias e 22 solteiros foram morar nas casas que existiam ao lado da estrada que estavam construindo; 11 famílias e 4 solteiros nas casas da "Fazenda Boa Vista"; 13 famílias e 26 solteiros na estrada da companhia desde Juiz de Fora até Serraria e, a maior parte, 130 famílias e 6 solteiros, foram morar na colônia propriamente dita.

Com a Proclamação da República, em 1889, a colônia passou a ser denominada "São Pedro" tornando-se mais tarde um bairro de Juiz de Fora, MG.

Os Artífices

Continuando nossa viagem no tempo, vamos agora para o dia 2 de novembro de 1855, em Hamburgo, na Alemanha, onde vamos encontrar, pela primeira vez, os patriarcas da família Espeschit que estavam entre os alemães que embarcaram para o Brasil.

Nesta data, o veleiro Antílope partiu com destino ao Rio de Janeiro, onde chegou em 28 de dezembro, após 56 dias de viagem. Dali, cerca de 150 alemães, os artífices e seus familiares, tomaram um vapor até Estrela, às margens do Rio Inhomirim, nos fundos da baía de Guanabara.

A vila de Inhomirim ainda existe. Embora na época tenha sido um dos locais mais movimentados do Brasil, hoje só restam ruínas abandonadas num local de difícil acesso.

Embora a Companhia União e Indústria tivesse prometido "transporte grátis", os artífices e seus familiares tiveram que seguir à pé, com as mulheres e crianças sendo levadas em carroções.

Colonos Alemães chegam em Juiz de Fora
Colonos Alemães chegam em Juiz de Fora.

Seguiram todos pelo Caminho de Estrela, do qual ainda restam alguns trechos, e subiram a serra até Petrópolis.

De Petrópolis, foram para Paraíba do Sul de onde seguiram até o destino final em Juiz de Fora onde finalmente chegaram em 7 de janeiro de 1856, sendo recepcionados com grande festa.

Dentre os artífices, havia sapateiros, alfaiates, barbeiros, carpinteiros, pedreiros, parteiras, padeiros, carroceiros, relojoeiros, marceneiros, ferreiros, funileiros, pintores, ferreiros, carpinteiros de carros, serralheiros, entre outros, que foram empregados nas obras de construção e manutenção da Estrada União e Indústria e das Estações de Muda.

Os Colonos

Em 1858, dois anos após os artífices, vieram os colonos alemães em cinco barcas, todas originárias de Hamburgo com destino ao Rio de Janeiro .

BarcaCapitãoSaídaChegadaViagem
(dias)
TripulantesColonos
TeelR.N. Kock21 abr24 mai34 13232
RheinW. Bester28 abr24 jun37 11182
GundelaI. Eckeman15 mai25 jul7016285
GessnerF. Lanke22 mai29 jul6811249
OsnabrückL. W. Wolf5 jun3 ago5916215

A viagem, que deveria durar no máximo 40 dias, se estendeu em alguns casos por até 70 dias o que resultou em epidemias de tifo além de racionamento de água e comida.

O plano original era trazer cerca de 400 famílias (cerca de 3.000 pessoas).

No primeiro ano, apenas 100 famílias eram esperadas. No entanto, a empresa que trazia os colonos (Casa Mathias Christian Schröder, de Hamburgo) recebia por pessoa embarcada e, para maximizar os lucros, enviou muito mais alemães do que o combinado.

No período de maio a agosto de 1858, chegaram em Juiz de Fora cerca de 225 famílias num total de 1.162 imigrantes. Em apenas 4 meses, a população da cidade aumentou em 20%.

Casa de Colono
Casa de Colono.

A Companhia União e Indústria não deu conta de abrigar adequadamente tantas pessoas e acabou desistindo de trazer mais colonos.

Devido à falta de moradias, os colonos germânicos ficaram por quase um ano instalados num acampamento na subida do antigo Morro da Gratidão, atual Morro da Glória, ao lado de um lago fétido o que trouxe de volta o tifo e a morte de velhos e crianças.